Coach de saúde ou nutricionista?
Uma das dúvidas mais frequentes que recebo é: “Se eu já me consulto com uma nutricionista, preciso também de um coach de saúde?”. Essa dúvida aparece também em outros formatos: pessoas que só podem pagar um profissional e não sabem como escolher entre o coach e a nutricionista, outras pedindo que eu passe um plano de alimentação, etc.
Começo dizendo que o cenário ideal é aquele no qual você é acompanhado por ambos, porque são competências complementares. Infelizmente, esse ideal nem sempre é possível, seja por limitações financeiras, de tempo, disponibilidade de profissionais na região, entre outros motivos.
Vamos, então, conversar sobre as diferenças entre estes profissionais e o que cada um deles pode fazer por você, para lhe ajudar nesta decisão.
Regulamentação
O coaching de saúde é uma modalidade mais recente, uma subdivisão do conceito geral de coaching, que engloba inúmeras especialidades. Talvez o termo “coach” tenha entrado no consciente coletivo mais moderno através dos esportes, mas a prática se popularizou através de ambientes empresariais, onde a necessidade por soluções personalizadas se fez necessária.
Essa modalidade se mostrou tão eficaz, que o método de coaching foi expandido para outras áreas, inclusive a da saúde.
Como este cenário é, historicamente, mais recente, a regulamentação dessa categoria específica ligada à saúde, ainda engatinha. No Brasil a prática ainda não é regulamentara.
Assim, profissionais da área dividem-se entre os que voluntariamente buscam formação formal (como foi o meu caso) e os que, em consequência de conhecimentos e prática profissional em outras áreas da saúde (como educação física, por exemplo) têm condições de atuar como coach de saúde em alguns cenários, mas não possuem formação específica para isso.
A formação de coaching de saúde não é barata, os melhores cursos estão em outros países e um profissional bem preparado pode levar alguns anos para solidificar conhecimentos suficientes. Note que “suficiente” é um critério subjetivo mas, embora a falta de regulamentação implique também na ausência de especificações de responsabilidade profissional e suas consequências, um coach de saúde sem certificação, que exerça a prática de maneira irresponsável, está sujeito a punições legais da mesma forma.
A área de nutrição, no entanto, já se estabeleceu há muitas décadas. Existe regulamentação e, assim, para exercer a profissão legalmente, estes profissionais necessariamente precisam de formação acadêmica, na qual aprofundam conhecimento específico sobre fisiologia e alimentos – e a sua inter-relação. A regulamentação também define escopo de responsabilidade, o que coloca sobre o nutricionista exigências regulamentais de atuação ética.
Área de Atuação:
O escopo de trabalho de cada um destes profissionais é o que causa maior confusão. Isso acontece porque existem intersecções entre eles. Tanto o coach de saúde quanto o nutricionista exercem trabalho com nutrição. Mas as similaridades param por aí.
O nutricionista tem profundo conhecimento sobre fisiologia e alimentos. Compreende a interação entre eles. Assim, é capaz de interpretar alguns exames laboratoriais e adequar a prescrição de uma dieta à necessidade fisiológica do paciente. Se aparecem altos níveis de colesterol, estados pré diabéticos, problemas com pressão alta, doenças inflamatórias, obesidade, ele busca compreender os hábitos alimentares e predisposições genéticas que levaram a estes quadros e busca corrigí-los através da alimentação e suplementação. Faz o acompanhamento (costumeiramente mensal) dos resultados e orienta, tecnicamente, reeducações alimentares quando necessárias.
Importante notar que o nutricionista faz prescrições – e que elas implicam em responsabilidade profissional legal. Neste sentido, se aproximam mais à prática médica do que a coaches de saúde, que não prescrevem nem tratam. Os médicos, por sua vez, quando prescrevem, são medicamentos ou tratamentos – e tratamentos podem incluir modificações alimentares, mas como esta não é a área de atuação específica deles, em geral as recomendações são de ordem mais genérica (tais como cortar alguns tipos de alimentos da dieta e acrescentar outros). O profissional que irá detalhar este plano alimentar é o nutricionista.
Porém, ao passo que o nutricionista possui profundos conhecimentos nesta área e procura fazer uma análise do seu estilo alimentar atual para propor modificações, o foco específico dele se restringe à área alimentar/nutricional. As prescrições pressupõem a autonomia do paciente para implementá-las.
Os coaches de saúde entram justamente nesta lacuna que não é preenchida nem pelo nutricionista, nem pelo médico.
Este profissional tem excelentes conhecimentos sobre nutrição e até mesmo bons conhecimentos sobre fisiologia. Mas não estudou fisiologia com a mesma profundidade do nutricionista – menos ainda do médico. Assim, as prescrições lhes são vedadas, porque incidem sobre o aspecto de responsabilidade, em uma área na qual lhes falta competência. Por outro lado, o coach de saúde estuda outros aspectos do comportamento humano e de suas interações com estilos de vida, que faltam ao nutricionista.
Assim, o coach de saúde lida com uma visão mais holística do paciente. Ao passo que não prescreve dietas ou suplementações específicas, atua em áreas que o nutricionista não aborda, criando junto com o cliente as modificações desejadas, na prática. Em combinação com orientações de ordem alimentar (que, sim, o coach de saúde oferece), parte de uma compreensão aprofundada dos seus obstáculos individuais para trabalhar soluções que ajudam a transpor essas barreiras e criar resultados e transformações reais e sustentáveis.
Neste sentido, o escopo de trabalho do coach de saúde extrapola os limites da nutrição, para fornecer ao paciente estratégias de construção de saúde de maneira abrangente. Pense no coach de saúde de forma análoga ao coach/treinador esportivo: alguém cujo foco de trabalho é o comprometimento com os seus resultados, que sabe como desenvolver suas habilidades, que treina sua estratégias. Que oferece os meios para atingir os fins.
É um profissional que lhe acompanha mais de perto, em consultas semanais ou quinzenais, participando da definição de metas e objetivos, avaliando resultados de curto, médio e longo prazo e fornecendo ferramentas práticas para que eles sejam alcançados.
Este profissional, para fazer um bom trabalho, inclusive, precisa ter bons conhecimentos em psicologia e comportamento humanos, para compreender o funcionamento do paciente como um todo, suas sutilezas, suas vulnerabilidades e limitações em cada momento, bem como seu potencial e habilidades, que podem propulsionar os resultados desejados.
Ao trabalhar de forma complementar ao nutricionista, irá orientar o desenvolvimento de formas viáveis de implementação de modificações alimentares que se façam necessárias, enquanto trabalha outras competências adicionais, visando a autonomia e o desempenho individual.
Assim, fica claro por que as disciplinas de nutrição e coaching de saúde são complementares, partilhando apenas o conhecimento sobre alimentos como denominador comum. E, por isso, o acompanhamento com ambos é o cenário ideal.
Mas e se você, por algum motivo, não puder ou não quiser contratar estes dois profissionais, como deve proceder para escolher o profissional mais adequado à sua necessidade?
Escolhendo entre um nutricionista e um coach de saúde:
Saúde é uma construção que engloba múltiplos aspectos. Dividimos saúde entre física e mental e temos profissionais específicos para cada uma delas. Mas sabemos que corpo e mente são interligados e que qualquer desequilíbrio em um, tende a resultar no desequilíbrio também do outro.
Se você for optar por um único profissional, a busca por um nutricionista deve ser feita por pessoas que têm necessidades específicas exclusivamente relacionadas à prescrição de alimentação e/ou suplementação nutricional (que o coach não vai fazer), enquanto os demais aspectos relacionados à saúde estão sob controle – você já se exercita regularmente, já tem a rotina bem estruturada para equilíbrio de atividades profissionais e pessoais, para preparar boas refeições (e já tem desenvoltura culinária), não sente que se auto sabota em processos de instalação de novos hábitos, não encontra dificuldades de ordem emocional ou psicológica para lidar com os desafios do dia-a-dia, etc.
Neste caso, o nutricionista irá lhe fornecer prescrições personalizadas, partindo do pressuposto que a responsabilidade de implementação das mudanças propostas será inteiramente sua. E se isso é algo que você consegue cumprir sem muita dificuldade, consultas com nutricionista lhe serão suficientes.
Mas se você sente que lhe falta suporte para colocar em prática mudanças alimentares ou de estilo de vida, ou se mesmo com uma prescrição de dieta não consegue manter consistência, trabalhar com um coach de saúde faz mais sentido.
Embora o coach não vá lhe prescrever dietas ou suplementações (se o fizer, procure outro, porque essa é uma prática irresponsável), ele vai lhe ensinar sobre alimentação saudável e sobre a ação de diversos alimentos no funcionamento do organismo, de forma que, na impossibilidade de acompanhamento nutricional, você terá informações suficientes para estruturar sua alimentação de forma mais consciente, mais embasada em ciência e com mais auto confiança. Não faltarão exemplos para embasar suas escolhas e, em última análise, as sugestões podem (e devem) passar pelo aval do seu médico antes de serem colocadas em prática, especialmente se você lida com alguma doença crônica como diabetes, hipertensão, enfermidades cárdio vasculares, processos inflamatórios diversos, etc.
E este suporte irá orientar suas escolhas além dos hábitos alimentares, construindo uma melhor relação entre corpo e mente, fortalecendo suas capacidades, ampliando sua autonomia, desenvolvendo ferramentas e padrões de comportamento condizentes com saúde como construção holística.
Exemplos práticos:
Digamos que seu propósito ao procurar uma nutricionista ou coach de saúde seja redução de peso e que você vem fazendo recorrentes tentativas de emagrecer sozinho, sem conseguir manter consistência. Vamos ver como este cenário pode se desenrolar no trabalho com cada profissional.
Imagine que você não conhece a modalidade de coaching, não tem conhecimento suficiente para estabelecer uma rotina alimentar que traga resultados e tem uma amiga que perdeu 30kg fazendo acompanhamento com nutricionista. Você então contrata essa profissional indicada pela sua amiga, faz a primeira consulta e sai dela com uma prescrição alimentar e de algumas suplementações. Com isso em mãos, cabe agora a você implementar as mudanças que pagou para que fossem prescritas. Os 3 cenários mais comuns nessa situação são:
- Você já tem auto-determinação e estruturação de rotina suficientes, só lhe faltava mesmo a prescrição para saber exatamente o que comer e quando e, assim, passa a comprar os alimentos semanalmente, a prepará-los diariamente, entende que o processo levará algum tempo e persiste. Após o primeiro mês, resultados iniciais animadores aparecem, você faz a segunda consulta, o processo se repete. Alguns meses depois você atinge seu objetivo. Como o processo foi gradativo, houve oportunidade para que os novos hábitos alimentares se estabelecessem e agora eles fazem parte natural do seu dia-a-dia. Seu relacionamento com a nutricionista ou se interrompe, pois já não se faz mais necessário, ou se amplia – quando, diante de resultados expressivos, você agora define objetivos mais ousados, de ganho e definição de massa muscular, de implementação de jejum intermitente, etc. Este é o melhor cliente para a área de nutrição.
- Em momento inicial, você se sente motivada a seguir as orientações. O primeiro mês segue bem, você começa a ver resultados. No segundo mês, sua motivação sofre um percentual de queda. Você ainda persiste, mas a energia não é mais a mesma do primeiro mês. Assim, seus resultados também começam a variar. A partir do terceiro ou quarto mês, questões de ordem circunstancial começam a interferir na sua capacidade de manter consistência. Chega, então, aquele momento em que você perdeu parte do peso que queria perder, mas não atingiu seu objetivo inicial e o progresso estaciona. Sua motivação já não é mais suficiente, sua auto confiança está comprometida, um senso de frustração se estabelece e, para não precisar lidar com estes sentimentos, acaba interrompendo o acompanhamento com a nutricionista. Sente que está gastando dinheiro à toa, porque não há muito mais a ser modificado na dieta sugerida e você não sabe o que fazer para voltar aos níveis de motivação iniciais. Não recupera o peso perdido, mas também não consegue mais avançar.
- Você contratou a nutricionista porque sabia que precisava fazer uma mudança, sabia que precisava de ajuda com ela, mas sem ter desenhado um plano de ação (ou sem motivação suficiente), chega em casa com a prescrição alimentar e se pergunta como vai colocar isso em prática. Sua rotina não acomoda bem a prática sugerida, seu estilo alimentar estabelecido é muito distante da mudança proposta, a modificação destes hábitos requer mais foco, tempo e energia do que você consegue estruturar sozinha. Consegue implementar algumas modificações, mas os resultados são modestos. Seu relacionamento com a nutricionista começa a lhe soar mais como um incômodo quando, dentro da sua ótica, ele evidencia sua dificuldade de implementar as mudanças que julga importantes. Você conversa com ela sobre o assunto, ela lhe passa algumas dicas interessantes mas, ainda assim, os resultados ainda modestos lhe passam a impressão de não justificarem o investimento. Você acaba desistindo. E se pergunta por que funcionou tão bem para sua amiga, mas não para você. É o cenário mais frustrante de todos, exceto pela possibilidade de você ganhar mais peso em consequência dessa frustração.
No primeiro caso, faz muito mais sentido contratar uma nutricionista. Não que um coach de saúde não possa trabalhar de forma complementar ou lhe trazer resultados de emagracimento. Mas como as necessidades específicas se restringem unicamente à adequação alimentar, trabalhar com a prescrição de um especialista é mais pontual, talvez mais barato e atende suas necessidades.
O segundo caso é aquele em que a combinação de coaching com nutricionista poderia lhe trazer os melhores resultados, mas diante da possibilidade de escolha única, o coaching faz mais sentido, porque a prescrição alimentar sozinha não é suficiente para atingir seus objetivos. Neste caso, o coach de saúde iria propor alterações alimentares, ao mesmo tempo que lhe forneceria caminhos viáveis para manter consistência, até que o objetivo seja atingido.
Por fim, no terceiro caso, a contratação de nutricionista deveria acontecer em etapa posterior ao coaching. Se funcionou para outra pessoa, é porque este é um processo individual que envolve uma gama imensa de fatores, muitos dos quais talvez estejam fora do seu radar. Se, neste momento, você está comprometida com a mudança, mas não consegue implementá-la, trabalhar com um coach de saúde é a opção com mais chances de sucesso.
Lembrando que o coaching é uma relação de parceria, na qual você também precisa estar disposto a fazer sua parte. A diferença é que, diante da percepção das suas dificuldades individuais, o coach talvez trabalhe primeiro aspectos cognitivos e estruturações de suporte, antes de sequer falar em alterações alimentares. Esta está entre as finalidades do coaching: acompanhar o cliente a partir do seu momento atual e ajudá-lo a desenvolver paradigmas e capacidades para viabilizar o início do trabalho ligado ao objetivo principal. O único pressuposto (e essa é condição sine qua non) é que você tenha comprometimento com seus objetivos. Sem isso, a parceria de trabalho se inviabiliza.
Conclusão:
Se você tem a possibilidade de trabalhar com estes dois profissionais, faça o teste e veja como suas necessidades se desenvolvem ao longo do tempo. Pode acontecer de você começar com ambos e, em dado momento, sentir que um ou outro não lhe são mais necessários, situação na qual você opta por qual acompanhamento interromper.
Mas se você precisa, ou quer optar apenas por um deles, considere as suas necessidades individuais para avaliar qual melhor se adequa a elas. Um não é melhor do que o outro: são atividades complementares, com condições de oferecer soluções distintas.
E, independentemente da sua escolha, busque sempre profissionais com conhecimento e experiência na situação específica que você quer trabalhar. mesmo dentro de cada uma dessas áreas de nutrição e coaching, existem sub-grupos nos quais os profissionais se especializam – como por exemplo nutrição esportiva e gestacional, ou coaching de famílias, idosos, crianças, veganos, etc.
Se você optar pela contratação de um coach de saúde, considere a possibilidade de conhecer meu trabalho, preenchendoo segundo formulário nesta página. Será um prazer lhe ajudar a viver com mais saúde, equilíbrio e autonomia. Disponibilizo consultas online via WhatsApp e Skype.